quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Com saudade

Hoje faz um mês que sinto a saudade que só quem já perdeu um pai tem uma idéia de como é. Algumas pessoas religiosas da minha família ascenderão velas. Não será o meu caso: prefiro ascender memórias. Algumas delas eu resolvi registrar aqui.

Ele foi meu primeiro professor de ciências. 

Foi ele que me levou no planetário pela primeira vez (lugar onde pouco mais de uma década mais tarde seria meu primeiro local de trabalho em divulgação de ciência). Foi ele que me ensinou que cada estrela do céu era um outro Sol e que algumas poucas delas eram outros planetas. 

Foi ele que me ensinou o conceito de distância e velocidade enquanto eu aplicava a clássica pergunta infantil em uma de nossas inúmeras viagens: 
- Pai, falta muito?
- Faltam 20 kilômetros.
- Pai, quanto tempo tem em 1 kilômetro?

Foram mais tantas lições aprendidas dentro do carro a caminho da serra, da praia ou do interior. Me mostrou que nuvens são feitas de água, que o arco-íris é feito de luz e que o som é feito de ondas. Me explicou o que é um relâmpago e porquê o som dele chegava atrasado de vez em quando. Me mostrou o eco. Me mostrou a ilusão de ótica gerada com o efeito do ar quente que sobe do asfalto.

Das viagens ele sempre trazia uma novidade, algumas vezes eram guloseimas, em outras eram tartaguras que ele pegava na estrada. Todas sem exceção foram parar um tempo depois no laguinho do Parcão.

Me mostrou eletricidade estática. Refração da luz quando passa pela água da piscina. Me mostrou de perto uma asa delta e algumas pistas de lançamento no alto de morros lindíssimos da serra gaúcha onde comi o melhor churrasco do mundo, feito em fogo de chão. Era um baita assador.

Foi ele que me mostrou como funciona uma tv de tubo, um motor, circuitos elétricos e pressão hidráulica. 
Colocava qualquer coisa pra funcionar. Fazia um bico muito engraçado enquanto estava concentrado trabalhando ou consertando alguma coisa. Eu não me cansava de olhar. Algumas vezes eu fui ver ele no laboratório de eletrônica em que ele trabalhava, lembro perfeitamente do cheiro de ar ozonizado que mais tarde eu senti tantas vezes nos corredores dos laboratórios de física da universidade. Sempre lembrava dele.

Foi quem mais se alegrou quando soube que eu havia escolhido física. Foi ele que me ligou pra contar, orgulhoso, que eu havia passado no vestibular. Talvez o único que entendia a minha escolha. Talvez porque soubesse que minha curiosidade e gosto pela ciência eram uma parte imensa do que ele deu pra mim. E a tudo isso e muito mais eu sou grata a ele.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Da Capo

Aos que me conhecem, o nome do meu blog dispensa comentários. Mas pra ti, leitor(a)/amigo(a) novo(a), eu explico.

Bah, sério mesmo?! é uma pergunta frequentemente proferida por mim, tipo um cacoete. Uma resposta quase automática a toda vez que alguém me conta alguma coisa nova, relevante ou irrelevante, absurda ou não (isso é importante salientar). É uma reação involuntária, um impulso de me surpreender antes mesmo de questionar. Ó, mas eu não sou totalmente idiota e pouquinho tempo depois (alguns segundos em geral) eu me dou conta que caí em mais outra trova.. mas aí é tarde... comédia pastelão, prato cheio pra amiguinhos debochados com humor duvidoso típico da 5ª série.

Detalhe: não funciona sempre e acontece só com amigos mais próximos, sendo a relação diretamente proprocional ao quanto eu confio nessa pessoa (viram, Tiago, Mateus, Alex e Jean?!) e principalmente quão convincente ela consiga parecer (viu Alex?!).

Se eu fosse um personagem de RPG pelo Sistema GURPS, isso seria uma desvantagem de poucos pontos chamada Credulidade. É a melhor descrição que eu já vi, mas com a diferença de que pelo GURPS isso aconteceria sempre e mesmo com desconhecidos.

Tá, só que a idéia do blog não é entregar de bandeja mais essa piada pra vocês (Bah, sério mesmo?!). É simplesmente auto aceitação uma ode ao deslumbramento e a curiosidade quase infantis que além de me colocar em situações constrangedoras também me impulsionam a contemplar o mundo e as criações humanas sob as luzes da ciência e da arte.

Quer sentir como é? Visita de vez em quando o meu blog, inclina um pouquinho a cabeça, arregala os olhos e abaixa uma das orelhas. Assim ó: